Eu acho que ainda me vejo como uma criança. Uma criança que não é capaz de fazer as coisas, que precisa de ajuda pra tudo, que não tem direito de escolher o que quer e precisa agradar a todos pra ser aceita no mundo. Não consigo ser eu sem pensar na reação de terceiros, principalmente dos que eu amo, principalmente da minha mãe- e atualmente do meu namorado. O que é ruim. Eu não posso me moldar pelos olhos dos outros, assim eu nunca vou saber se eles gostam de mim pelo que sou ou porque to sendo o que eles querem. Aliás, quem eu sou, se tento sempre ser o que os outros querem que eu seja?
Talvez por isso eu esteja parada na vida. Por isso talvez eu não tenha coragem de me jogar de vez, de fazer o que eu quero sem pensar no que vão pensar, porque eu to muito focada na opinião dos outros, e por eu não me sentir capaz. Porque eu sou só uma criança, e crianças nunca sabem o que é bom realmente pra elas, não é mesmo?
Eu queria saber quando vou deixar de me sentir assim. Tenho pensado muito na vida, nas coisas, nos porque de tudo, em como as coisas realmente funcionam, por que elas são desse jeito, qual o fundamento de tudo, são muitas questões mesmo. E me pergunto se isso vai durar pra sempre. Se essa confusão e esse sentimento de inadequação e de que to fazendo tudo errado vão ser eternos. Eu espero que não. Eu queria ter respostas mais concretas, eu queria pensar diferente, ser diferente. Às vezes eu tento e me sinto tão não eu. Mas eu também me sinto não eu não tentando. Dá pra entender? A vida é confusa e paradoxal. Tem gente que se alegra com isso, eu deveria me alegrar. Deveria ficar contente e excitada com essa dúvida que a vida é. Como Paulinho Moska diz em A seta e o alvo inteira, e eu queria tanto ser assim. Mas minha mania de controlar tudo me impede. E o que eu deveria saber controlar, que é a maneira como me sinto, como quero realmente me sentir, e simplesmente sentir, isso não consigo.
Será que isso muda?
A SETA E O ALVO
Eu falo de amor à vida,
Você de medo da morte.
Eu falo da força do acaso
E você de azar ou sorte.
Eu ando num labirinto
E você numa estrada em linha reta.
Te chamo pra festa,
Mas você só quer atingir sua meta.
Sua meta é a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu olho pro infinito
E você de óculos escuros.
Eu digo: "Te amo!"
E você só acredita quando eu juro.
Eu lanço minha alma no espaço,
Você pisa os pés na terra.
Eu experimento o futuro
E você só lamenta não ser o que era.
E o que era?
Era a seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Eu grito por liberdade,
Você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade
E você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos,
Você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro
E você se satisfaz com metade.
É a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa não te espera!
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?
Sempre a meta de uma seta no alvo,
Mas o alvo, na certa, não te espera.
Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada,
Quando se parte rumo ao nada?